Luto
- 14 de nov. de 2022
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Como lidar com o Luto?
Eu costumo dizer que o luto é a fase em que temos que nos acostumar com a falta, seja a falta de alguém, de alguma rotina ou de alguma coisa.
Claro que cada luto tem peso diferente e para cada pessoa ele é diferente.
Vou falar aqui um pouquinho sobre cada uma dessas situações.
O luto quando ocorre a passagem de um ente querido, penso ser o mais dolorido, é quando você tem que se acostumar a não ver, não abraçar, não ligar e saber que independente do dia que vier, não mais estará lá. Esse amor faz parte de outro plano agora, um plano que é invisível aos olhos da maioria e que não é sempre que temos permissão de visitar.
Lembro do primeiro luto que me tocou, eu tinha 7 anos na época, foi quando uma das que chamava de mãe fez a passagem, ela era uma vózinha tão amorosa, lembro de quando ia ficar na casa dela com ela e os filhos no final de semana, de ela bater a colher no prato para que eu buscasse pois estava acamada, e de todas as tardes durante a semana minha mãe ir comigo e meus dois irmãos para lá ficar com ela, afinal moramos até eu ter seis anos na casa do lado, nesse meio tempo meus irmãos nasceram e ela se afeiçoou a gente. Ela nos amava e a gente a ela. Eu lembro de chorar muitos dias e de ver a dinda chorar escondida muitas vezes, até que um dia isso passou.
Depois disso, muitos anos depois foi meu pai aos 58 anos, eu estava com 36 anos, foi repentino e altamente difícil para mim, pois quando entubaram ele, eu tive medo de entrar na UTI, e por dois dias ele ficou nos tubos, pela minha falta de coragem de ir dizer para ele que estava tudo bem partir e que a gente ia aguentar e ia seguir seus ensinamentos, que ele tinha criado ótimos filhos e que a gente ia cuidar da mãe. Duas horas depois ele partiu. Por meses eu chorei todos os dias, assim como as vezes tenho saudade e choro lembrando do meu pai pegar no meu pé quando ia fazer coisas que ele tinha me ensinado. Não penso na tristeza, penso nos bons momentos, no quanto ele deve ter orgulho de mim e me espiar de vez em quando, quando tem permissão, e rir da minha cara quando sou estabanada. Vou dizer para vocês que eu me acho mais tranquila hoje em relação a isso, apesar da saudade, mas sei que minha mãe e meus irmãos lidam com isso de uma forma bem diferente da minha.
Há algumas semanas foi a vez da Dinda, aquela que citei no primeiro luto que senti, gente, essa foi a que mais senti!!! Há seis anos atrás ela tinha passado por uma cirurgia cardíaca que podia não ter voltado, e ela voltou! Eu levei para o hospital, cuidei no hospital, trouxe para casa, cuidei em casa. Tirei férias e arrumei atestados para poder dar atenção a ela e um belo dia ela praticamente me expulsou hahaha, sempre foi independente e quando a médica liberou para ficar sozinha, assim ela quis. Uma das mulheres mais fortes que já conheci. Sempre preocupada com o bem-estar dos outros, principalmente comigo e meus irmãos, os seus filhos postiços, como ela chamava.
E de dois anos para cá a gente vivia em médico e fazendo exames e nos últimos três meses eu não conseguia estar presente o tempo todo. A situação foi agravando e só na finaleira descobriram o que ela realmente tinha. Já não dava mais tempo! E eu tive que dizer a ela, no último dia, mesmo ela com os olhos fechados e sem poder me responder o quanto eu a amava e o quanto era difícil para mim deixar que ela partisse, mas eu tive que dizer, eu tive... foi uma das coisas mais difíceis da minha vida. Eu orei com ela, descrevi o céu, as árvores, o ninho de passarinho que tinha na janela do quarto e disse para ela não se preocupar com a gente, ela tinha ajudado a criar pessoas de caráter que iam fazer tudo como ela havia pedido sem nenhuma briga. E vou dizer a vocês, escrevendo isso as lágrimas correm do meu rosto, porque eu lembro dessa cena. Uma das coisas mais difíceis da minha vida!
Agora eu procuro lembrar de outras coisas, foi ela que me ensinou a fazer churrasco, a gente fazia debaixo das árvores no sítio que ela morava para nós duas, me ensinou a comer coisas diferentes, a amar as flores e lembro dos passeios, do quando ela amava viajar, ela viveu a aposentadoria enquanto pode, conheceu vários lugares e se divertiu e contou muitas histórias para a gente.

Essa última experiência do luto está sendo a mais dolorosa para mim, não sei se é por ser a mais recente, mas sinto assim. E sei que para os meus irmãos e para minha mãe também, pois a dinda, apesar de não ter o mesmo sangue da gente, sempre foi da família, e eu pude agradecer por ela ter escolhido ser nossa mãe.
Agora que contei um pouco sobre como vivenciei os lutos que foram mais presentes para mim, você pode ter uma noção do porquê sente da forma que sente.
Mas o luto não é só quando alguém faz a passagem que vivenciamos. Vivenciamos quando acontecem mudanças marcantes na nossa vida.

Também vivemos o luto quando trocamos de casa, de cidade, de emprego, pois temos que desapegar de antigos hábitos e criar novas rotinas. Um bem marcante é quanto saímos da casa dos pais e vamos viver em um espaço só nosso. Este pode trazer o sentimento de solidão e algumas pessoas até se deprimem em função disso. Pode-se dizer que precisamos de um preparo para viver este “desligamento”. Aprender a viver consigo mesmo é transformador e penso que todo ser humano deveria experimentar, mas para viver essa experiência deve se preparar mentalmente e emocionalmente para isto.

Outro luto que vivemos é nas separações. Quando terminamos um relacionamento vivemos um luto. Como assim? É uma companhia, que um dia você amou e teve carinho e que de repente vocês decidiram ou a companhia decidiu que vocês não devem mais fazer parte da vida um do outro. Eu já vivi isto, aos 30 anos, e naquela época não entendia dessa forma. Quando me dei conta de que o conceito é este, consegui ver a situação com outros olhos. A separação nada mais é que um desligamento, onde nos desligamos do parceiro (a) e temos de desapegar de hábitos que eram presentes nessa relação e cultivar nossos próprios hábitos individualmente. Não estou dizendo que é fácil! É um processo delicado e possível, mas exigem um trabalho no campo mental e emocional para transformar tudo isso, o que para alguns é curto e para outros é longo. Cada pessoa é uma e vive isso de uma forma diferente.
Estejam à vontade para perguntas ou comentários a respeito.
Lu Pohlmann
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